Transit x - O esplendor das idades
NORDISK TEATERLABORATORIUM e PRÓXIMO FÓRUM TRANSIT
10 Festival Transit
O ESPLENDOR DAS IDADES
Teatro - Mulheres - Coragem
3 a 12 de junho de 2022
no Odin Teatret, Holstebro, Dinamarca
Dedicado a Else Marie Laukvik, uma das fundadoras do Odin Teatret
Video Documentation
Video report by Keiin Yoshimura
O 10 Festival Transit representa um marco e uma necessidade de mudança. O Magdalena Project construiu um ambiente onde mulheres de diferentes gerações trocam e trabalham juntas. Ativismo irá confrontar canções de ninar, apresentações online vão desafiar sessões de treinamento presenciais, mães vão falar de filhas enquanto filhas vão falar de mães, acadêmicas irão questionar os contextos faltantes e professoras de escola primária vão nos lembrar da necessidade da educação. Enquanto estivermos em contato ao invés de manter a separação, as idades de acordo com o a data de nascimento ou experiência profissional se mesclam de maneira produtiva. Precisamos umas das outras para ter ideias e desenvolvê-las. Para "O esplendor das idades - Teatro, Mulheres, Coragem", mulheres de todas as idades foram convidadas para contribuirem com suas experiências por meio de performances, demonstrações de trabalhos, workshops, masterclasses, trabalhos em processo e falas. O programa quer surpreender praticantes e acadêmicas mais velhas e mais jovens, e manter todas dançando maravilhadas na ponta dos pés.
Julia Varley
Artistas Convidadas:
Amaranta Osorio (Colombia/Mexico/Spain), Ana Woolf (Argentina), Antagon TheaterAKTion, Bárbara Carvalho (Brazil/Germany), Corporación Colombiana de Teatro, Patricia Ariza, Carlos Satizábal (Colombia), Dorthe Kærgaard (Denmark), Eluda Dance Company (Denmark), Emilie Lund, Fabrica Athens, Giovanna Michaliadi Sarti, Fanis Katechos, Nefeli Stamatogiannopoulou (Greece), Francesca Romana Rietti (Italy), Gabriella Sacco (Italy/The Netherlands), Gilla Cremer (Germany), Gilly Adams (UK), Helen Varley Jamieson (New Zealand/Germany), Ikarus Stage Arts, Carolina Pizarro, Gabriela Arancibia (Denmark), Itínera Teatro (Mexico), Julia Filippo (Italy), Jana Korb (Czech Republic/Germany), Janaina Matter (Brazil), Jill Greenhalgh, Jessie Brookes, Meg Brookes (UK), Silvia Moreno (Spain/France), Kapila Venu (India), Katrine Faber (Denmark), Kirsten Justesen (Denmark), Maskhunt Motions, Deborah Hunt (New Zealand/Puerto Rico), Maria Porter (USA), María Sánchez, Eugenia Cano, Alma Martinez (Mexico), Mi Compañía Teatro, Mérida Urquía (Cuba/Colombia), Parvathy Baul (India), Odin Teatret, Roberta Carreri, Else Marie Laukvik, Uta Motz, Iben Nagel Rasmussen, Rina Skeel, Julia Varley, Frans Winther (Denmark), Organic Theatre, Bianca Mastrominico, John Dean (UK), Residui Teatro, Viviana Bovino (Spain), Riotous Company, Mia Theil Have (Denmark), Teater Interakt, Sara Larsdotter Hallqzist (Sweden), Teatret OM, Sandra Pasini, Antonella Diana (Denmark), Teatro Nucleo, Natasha Czertoch, Cora Herrendorf, Veronica Ragusa (Italia), Teraz Poliż, Dorota Glac, Marta Jalowska, Kamila Worobiej, Martyna Wawrzyniak, Gosia Wdowik and Karolina Micula (Poland), Teresa Ruggeri (Italy), Theatralia (UK), Filomena Campus (Italy), Váli Theatre Lab, Alice Occhiali, Valerio Peroni (Denmark/Italy), Voix Polyphoniques, Brigitte Cirla, Mireille Mammini, Brigitte Maurin, Anne Lise Lionnet, Graziella Végis (France), Ya-Ling Peng (Taiwan).
O ESPLENDOR DAS IDADES
Nosso senso de história
Em novembro de 2021 surgiu um debate em Holstebro, na Dinamarca, sobre algumas pinturas de Jens Nielsen, um pintor local muito produtivo, cujo nome também foi dado a um museu de arte da cidade. Muitas de suas pinturas foram vendidas a um preço muito bom, outras expostas em museus, outras guardadas em um porão por anos porque ninguém as queria. Alguém sugeriu que era hora de queimar as pinturas indesejadas. Embora eu tenha me lembrado instantaneamente dos livros queimados em maio de 1933 na Alemanha, esse caso foi diferente. Não foi uma batalha de ideais ou censura, apenas uma questão de espaço. Pensei então em todas as bibliotecas que os membros da família não querem mais herdar e nos arquivos que se enchem de cada vez mais de documentos que ninguém tem tempo de classificar. Também pensei nas mensagens e fotografias compartilhadas em alguns aplicativos de mídia social que são destruídas no momento em que são vistas. O que está acontecendo com nosso senso de história hoje? As gerações percebem sua relação com o passado, presente e futuro de forma diferente. Uma das minhas obsessões contínuas tem sido contribuir para construir nossa própria história como mulheres praticantes de teatro, encontrando uma nova linguagem, documentando nossas conquistas e compartilhando perguntas. Como criamos espaço e tempo para isso? Por exemplo, ainda precisamos fazer edições da revista The Open Page?
Marco e mudança
O Projeto Magdalena construiu um ambiente onde mulheres de diferentes gerações trocam e trabalham juntas. Enquanto estão em contato em vez de manter uma separação, as idades de acordo com a data de nascimento ou experiência profissional se misturam de forma produtiva e criativa. Precisamos umas das outras para termos ideias e nos desenvolvermos. O décimo Festival Transit representa um marco e marca uma necessidade de mudança. Celebraremos o que fizemos e gostamos de imaginar o que queremos e precisamos fazer a seguir. Pediremos aos mais velhos que mostrem trabalhos em andamento e aos mais novos que apresentem performances refinadas e acabadas. O ativismo confrontará canções de ninar; os programas online desafiarão as sessões de formação presencial, as mães falarão das filhas enquanto as filhas falarão das mães, as acadêmicas universitárias questionarão os contextos ausentes e as professoras primárias nos lembrarão da necessidade da educação. E, posteriormente, a recém-criada associação Transit Next Forum – Teatro e Mulheres ampliará os campos de atuação em torno do Transit Festival com iniciativas mais continuadas.
Coragem renovada
Hoje, muitos grupos de teatro que nasceram nas décadas de 1960, 70 e 80 estão enfrentando uma mudança de geração na liderança. Não é um processo fácil. As novas gerações que assumem são ora crianças que cresceram no seio do grupo, ora alunos que começaram por imitação e agora encontram o seu próprio caminho, e ainda outros que escondem a sua falta de visão com novas capas sobre velhas políticas. Os ministérios da cultura sempre questionaram como manter as instituições estabelecidas ao mesmo tempo em que acolhem artistas recém-formados. Nossa tarefa como mulheres que respeitam a experiência e querem dar chance a novas propostas é ouvir o que bisavós e filhos têm a dizer em nossas sociedades modernas.
Às vezes, as mulheres mais velhas são as que têm mais energia e comprometimento. A geração mais velha cresceu com constrições que os tornaram resistentes e fortes. Os jovens olham para esses exemplos com lágrimas nos olhos. Por que elas são movidas? Eles não acompanharam as performances das artistas mais velhas ano após ano; e não revisam sua própria vida ao vê-las novamente. Algumas jovens me disseram que ficaram comovidas por causa da sinceridade. Essa sinceridade exige coragem: estar ao lado de seus ideais, lutar contra a discriminação, dedicar-se a criar oásis de beleza e poesia sem a ilusão de alcançar resultados imediatamente visíveis. Hoje, muitas das que estiveram presentes no nascimento da ideia do Projeto Magdalena em Trevignano em 1983 são avós. Alguns não estão mais entre nós. Não achamos que mudamos. O mundo mudou ao nosso redor.
A pandemia nos fez refletir sobre o tipo de mundo que construímos. As escolhas consequentes diferem, embora todos reconheçamos que devemos defender a necessidade humana de contato e troca. Durante a pandemia fui tomada pela ansiedade de não poder ver amigos e familiares que estão envelhecendo e podem desaparecer. É estranho como passar para frente significa ensinar e passagem corresponde a morrer. Presa entre a obrigação de dar responsabilidade aos outros e ainda criar possibilidades para uma nova vida, tenho muitas tarefas. Uma delas é reunir mulheres para que possam trocar seus trabalhos e pontos de vista, renovar suas amizades e fazer novas amizades. Não há tempo para descansar sobre os louros, conscientes de que nossa dignidade e história como mulheres se constrói com autonomia e celebrando o esplendor de todas as épocas com coragem renovada.
10 Festival Transit
O último festival Transit Hope in Action - Teatro, Mulheres, Vontade surgiu do desejo de recuperar a confiança no contato corporal, na música, no amor, no espírito de aventura, no movimento, na natureza e na crença no futuro. É irônico que esse tema tenha sido escolhido pouco antes da pandemia. Para o Festival Transit 10 O Esplendor das Idades - Teatro, Mulheres, Coragem, mulheres de todas as idades foram convidadas a contribuir com sua experiência através de performances, demonstrações de trabalho, oficinas, masterclasses, trabalhos em progresso e palestras. O programa quer surpreender praticantes e acadêmicas mais velhas e mais jovens, e manter todas dançando maravilhadas na ponta dos pés.
Julia Varley
*tradução Janaina Matter